Os reflexos desfavoráveis da crise brasileira nas esferas econômica e política do País têm tido impacto direto no atual mercado de trabalho. Um exemplo é o aumento do desemprego, com índice de 11,3% registrado em julho deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número se refere ao segundo trimestre de 2016 e é maior que os 8,3% apontados no mesmo período do ano passado.
Esse cenário de retração somado à chegada da Quarta Revolução Industrial, conhecida pelo forte surgimento de novas tecnologias, como Internet das Coisas, Inteligência Artificial, Automação etc., tem trazido inúmeros desdobramentos no ambiente de trabalho do brasileiro e exigido dele uma brusca mudança de atitude para que consiga se manter no mercado de trabalho. Mais do que se aperfeiçoar, a hora é de romper e inovar, e já não bastam mais conhecimento e experiência, mas, sim, habilidades que vão além desses quesitos.
Para a professora da escola de negócios MBI e Business Coach, Jaqueline Weigel, o chamado Mundo 4.0 requer, de fato, uma mudança social profunda e que afeta a forma de viver e trabalhar do ser humano. Segundo ela, a ‘chave do sucesso’ para sobreviver a essa revolução está no comportamento das pessoas. A professora de Liderança e Gestão Moderna de Pessoas do MBI, destaca diferenciais necessários a líderes e profissionais que queiram conduzir esse mundo futurista: “Precisamos de seres humanos que aprendam a lidar positivamente com cenários incertos, que usem sua criatividade e que se esforcem para valer bons contratos”. De acordo com Jaqueline, a pessoa com facilidade de adaptação, e que aceita experimentar o novo sem resistência, sairá na frente das demais.
As inteligências emocional e cognitiva também estão entre as premissas a serem seguidas pelo profissional deste século, já que, neste caso, os computadores não têm essa aptidão. Saber usar emoções que combinam com os eventos e levar em conta a intuição, também são competências fundamentais. Além disso, aquele que souber trabalhar com o espírito da cooperação tem vantagem sobre os demais.
Agilidade X Humildade
O tripé humildade, senso de servir (ao bem comum, aos liderados, à sociedade) e agilidade para aprender são destacados por Jaqueline Weigel como competências inerentes a líderes em geral. Segundo ela, no mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), a agilidade, especialmente, é imprescindível. Além disso, chama atenção para o empreendedorismo: “Empreendedores têm vantagens neste momento, porque têm habilidades para o caminho incomum”.
Segundo o mentor de Inovação da escola de negócios MBI, Renato Kim Panelli, as habilidades empreendedoras serão realmente fundamentais para essa era do ‘não emprego’. “Saber inovar também será útil, não só nos negócios, pois as pessoas serão ‘convidadas’ a se reinventar durante a sua vida”, diz. Segundo ele, conviver com um ambiente VUCA e saber administrar situações dentro deste contexto” também fará muita diferença. “Empreendedorismo, inovação e internacionalização serão premissas indispensáveis para quem quiser progredir nesse novo contexto”, destaca.
As valiosas competências
São dez as habilidades necessárias para quem quer prosperar na Quarta Revolução industrial, segundo discussão realizada no Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça, em 2016:
01. FLEXIBILIDADE COGNITIVA – Capacidade de criar ou usar diferentes conjuntos de regras para combinar ou agrupar as coisas de diferentes maneiras. É assim que o relatório do Fórum Econômico Mundial define a flexibilidade cognitiva. A habilidade não constava na lista de demandas previstas para o mercado de trabalho, mas já começa a ganhar importância, tendência que deve se acentuar nos próximos quatro anos.
02. PODER DE NEGOCIAÇÃO – Relacionar-se com pessoas é um constante negociar. Por isso, habilidades de negociação e conciliação de diferenças são importantes para todos os profissionais.
03. ORIENTAÇÃO PARA SERVIR – A inclinação para ajudar os outros é ainda vista como uma habilidade indispensável ao trabalho em equipe, mas sempre deve estar acompanhada da contribuição para a autonomia do ajudado de modo que logo se torne também um ajudador.
04. JULGAMENTO E TOMADA DE DECISÃO – Pessoas hábeis em analisar dados e ambiente e tomar decisões a partir disso já se destacam no mercado e tendem a ser ainda mais disputadas até 2020. Segundo o professor britânico Dave Snowden – fundador da Cognitive Edge, uma rede de pesquisa internacional, e criador do Cynefin Framework, uma metodologia específica para nortear decisões – um bom líder será sempre bom na tomada de decisões em ambientes de alta complexidade, contexto mais frequente na rotina corporativa.
05. INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – Ainda ausente no currículo acadêmico, a gestão das emoções é fundamental a profissionais. Segundo o economista espanhol José Ramón Pin, professor da IESE Business School, a gestão adequada das emoções é uma habilidade que pode fazer profissionais passarem pela crise com mais serenidade e sem perder o “espírito de luta”. A importância dada à inteligência emocional é mais recente no imaginário corporativo. Um dos aspectos que deve ser levado em consideração é o fato de que a inteligência artificial ainda passa longe de aspectos de gestão emocional.
06. SABER COORDENAR COM OS OUTROS – A capacidade de coordenar as próprias ações de acordo com as ações de outras pessoas sempre foi uma das mais destacadas para o mercado de trabalho. Vale destacar que para líderes trata-se de uma competência crítica. É que aspectos ligados à colaboração e facilitação de processos são algumas das características que especialistas apostam como obrigatórias nos CEOs (líderes) do futuro.
07. GESTÃO DE PESSOAS – A capacidade de motivar, desenvolver pessoas e de identificar talentos é a parte da função de um gestor mais destacada pelo relatório do Fórum Econômico Mundial. Nos setores de energia e de mídia, esta habilidade é vista como uma habilidade chave até 2020.
08. CRIATIVIDADE – Profissionais criativos terão a oportunidade de se beneficiar em cenários de rápidas transformações em produtos, tecnologias e modos de trabalho. Lembre-se: os robôs perdem para nós em criatividade. Ainda não conseguem ter ideias inusitadas e inteligentes ou desenvolver alternativas criativas para resolver problemas. Por isso, a habilidade que era a 10ª da lista de previsões das demandas de mercado, agora faz parte das três habilidades mais destacadas para 2020.
09. PENSAMENTO CRÍTICO – Pensamento estruturado, capacidade de comunicação clara, habilidade de fazer as perguntas certas, de reconhecer o problema atrás do problema e de olhar para uma questão sob diferentes perspectivas define o conceito de pensamento crítico, segundo explicou a professora Giedre Vasiliauskaite, da pós-graduação da Universidade de Rotterdam, em uma entrevista a revista EXAME. A especialista no assunto define esta como a competência do século 21. No relatório publicado pelo Fórum Econômico Mundial, o pensamento crítico é definido como o uso da lógica e da racionalização para identificar forças e fraquezas de soluções alternativas, conclusões e abordagens a problemas.
10. RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS COMPLEXOS – Esta competência já prevista como a mais exigida, volta a aparecer no topo do ranking de previsões para 2020. De acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial, nos próximos quatro anos 36% das atividades em todos os setores da economia deverão exigir habilidade para solução de problemas complexos.
CONCLUSÃO
Se a crise por um lado é sinônimo de incerteza e desconforto, ela também tem o viés positivo da superação. Prova disso é a afirmação atribuída a Albert Einstein ainda nos anos de 1940: “A crise é a melhor benção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque ela traz progressos. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias”. A frase supostamente dita pelo cientista vai ao encontro do que Jaqueline Weigel também acredita, quando diz que ‘o mundo é para os fortes’. “Cada vez mais, corajosos e desapegados terão valor e, pessoas em zonas de conforto e limitadas pelo medo, ficarão à sombra do progresso”, alerta.
Fonte: IESE Business School
Pesuisa e Edição: Jackson Baia